Tema desta edição - AGOSTO DE 2025:
Não tenho pressa
O movimento slow life — ou “vida sem pressa” — ganhou força nas últimas décadas como resposta ao ritmo acelerado das sociedades atuais. Carl Honoré, jornalista e escritor canadense, foi um dos primeiros intelectuais a refletir sobre como a pressa constante afeta nossa saúde, criatividade e relações. Ele defende o retorno a um ritmo mais humano, mais devagar. Para ele, é possível combinar a necessidade de produtividade com a busca pelo equilíbrio. Afinal, todos buscamos viver com mais consciência e qualidade.
Brooke McAlary, autora australiana, também é outro nome que vale a pena conhecer. Ela escreve a partir de sua própria experiência de burnout, quando percebeu que precisava desacelerar para recuperar a saúde mental e o sentido da vida. Sua abordagem é prática e acessível, voltada para pessoas que vivem em grandes cidades e sentem a pressão de agendas lotadas. Interessante é que ela apresenta maneiras que podem ajudar a simplificar a rotina, reduzir distrações e cultivar momentos de presença, sem idealizar uma vida perfeita.
Honoré, com seu olhar jornalístico, investiga exemplos de comunidades e indivíduos que adotaram o slow living, desde cidades que priorizam o transporte a pé até empresas que incentivam pausas mais longas para almoço. Ele mostra que desacelerar não significa ser menos eficiente, mas sim mais intencional. Sua escrita é provocativa e inspiradora, o que pode moldar para melhor nossos hábitos de vida e trabalho.
Já McAlary adota um tom mais íntimo e confessional, compartilhando erros, aprendizados e pequenas vitórias no processo de desacelerar. Ela fala sobre a importância de dizer “não” a compromissos que não agregam valor, de criar espaços de silêncio e de reconectar-se com a natureza. Para estudantes e jovens profissionais, suas ideias são um convite a repensar prioridades antes que o estresse se torne crônico.
Ambos os autores convergem na ideia de que o slow life não é um luxo, mas uma necessidade em um mundo saturado de estímulos.
Quanto a isso, pense em como nossas mentes são inundadas a todo instante com informações, seja por textos, imagens, vídeos ou sons. Basta um minutinho na internet (principalmente nas redes sociais) para que uma avalanche de informações (muitas das quais dispensáveis para que você viva bem!) atinja seu cérebro e fique querendo ocupar espaço que poderia ser mais útil com outras prioridades.
Para um público adulto, jovem e estudantil, conhecer esses dois autores é abrir espaço para refletir sobre como o tempo é usado e como ele pode ser vivido de forma mais plena. Ao unir a análise crítica de Honoré com a experiência prática de McAlary, o leitor encontra não apenas inspiração, mas também ferramentas concretas para transformar sua relação com o tempo. Consequentemente, poderemos melhorar como passamos pela vida.
Para viver é necessário equilíbrio em todos os aspectos da vida. Viver com pressa sem ter consciência da importância de se dar ao tempo a sua medida de necessidade é o mesmo que queimar a cabeça de um fósforo sem propósito.
Aproveitar cada momento é saber viver
Elikah França
Matemática, Mestre em Banco de Dados, bacharel em Direito, Especialista em Perícia em Crimes Digitais, Especialista em Ciências Criminais.
Instagram: @elikah
Slow life…
Deve ser como uma gota, a última gota de chuva que escorre por entre as folhas verdes.
Deve ser como os últimos raios de sol que vão sumindo aos poucos, lentamente.
Deve ser como o último pedaço daquele doce maravilhoso, inesquecível, que a gente come bem devagar, como se fosse a última vez e torcendo para manter na boca e na memória a experiência do momento.
Deve ser fazer na quarta-feira aquilo que se pensou na segunda, ou na semana passada. Opa! Mas os ansiosos também fazem isso! Como saber a diferença entre viver de forma planejada, de forma ansiosa ou apenas viver slow life?
A vida moderna exige rapidez e respostas rápidas, exige que estejamos sempre conectados interagindo, aprendendo e ensinando. Por outro lado, são necessários momentos de descanso, pequenos momentos de prazer que a vida nos concede. Saber aproveitar esses momentos é saber viver, é encontrar um equilíbrio.
Há um tempo na nossa vida em que já não temos mais tanta pressa porque já conseguimos chegar onde queríamos ou vencer mais uma etapa da vida. A vida é feita de momentos e se pensamos nela como uma viagem, como tantos dizem, cada parada deve ser aproveitada.
Não devemos esperar um grande momento, um grande clímax ou a realização do grande sonho, porque a vida é feita de pedaços.
E, assim, a vida vai passando, e não adianta você querer acelerar o relógio porque a vida vai passar no tempo certo. Cabe a cada um escolher o ritmo e apreciar as pequenas conquistas, as grandes vitórias, os amores recebidos e os sorrisos que arrancamos. Há um lugar ali à frente no nosso caminho onde tudo fará sentido!
Se faz chuva, aproveite os pingos d’água.
Se faz sol, receba a energia e aproveite para caminhar nas ruas do seu bairro.
Não tenho pressa, porque as coisas levam tempo para acontecer e eu já compreendi isso.
Ando devagar porque já tive pressa
Flávio Seabra
Odontólogo/UFRN. Professor universitário. Cirurgião-dentista/TRE-RN. Graduação em TI - Tecnologia da Informação-IMD/UFRN. Especialização na área de TI.
Instagram: @flaviorgseabra
"Ando devagar porque já tive pressa.”
Assim começa uma de minhas músicas preferidas: um sertanejo raiz, obra-prima de Almir Sater e Renato Teixeira. Todos buscamos a possibilidade de um dia poder “andar devagar” depois de uma vida inteira “tendo pressa”.
Mas a minha geração, a geração X, entende que para “levar esse sorriso”, é preciso que já tenhamos “chorado demais”. Foco no “demais”!
Já a Geração Z, dos nascidos entre 1997 e 2012, os estudiosos das ciências sociais dizem que eles já andam devagar. Que eles já “pensam que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente”.
Com um estilo de vida intencionalmente desacelerado, é uma geração que em vez de trabalho intenso e alta performance profissional em busca de status financeiro, busca equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, que prioriza saúde mental, autocuidado e bem-estar.
Ora! A Geração Z está certa. A vida precisa ser mais do que trabalhar.
Mas eu, que não sou nenhum estudioso de ciências sociais, vejo algo completamente diferente.
A geração Z pode até parecer que pulou o “ter pressa” e o “chorar demais”. Mas não. Eles apenas mudaram o foco: hoje, a pressa e o esforço estão no estudo e na qualificação, e não em um trabalho mal remunerado no início da vida, como aconteceu com a Geração X. Buscam dominar o conhecimento e as tecnologias disponíveis para tornar o trabalho mais fácil e produtivo, o que permite trabalhar menos e conquistar posições mais qualificadas e melhor remuneradas já no começo da vida adulta.
Ou seja. Só parece que eles pularam o “ter pressa” mas na verdade eles têm mais pressa que a geração X.
E estão adoecidos. Quase todos já têm sua prescrição psiquiátrica ainda na universidade, enquanto a geração X só foi ter já no meio da vida profissional.
No fim das contas, nenhuma geração escapa do “ter pressa” e do “chorar demais”. Cada tempo tem seu peso e suas dores. A diferença está no jeito de viver isso: uns correram atrás de estabilidade, outros correm atrás de sentido. No fundo, todo mundo só quer aprender a marcha e achar o próprio ritmo para seguir em frente.
Porque “Cada um de nós compõe a sua história. E cada ser em si carrega o dom de ser capaz. De ser feliz”
Buscar um estilo de vida mais consciente e significativo
Isadora França
Graduanda de Farmácia/UFRN.
Influencer digital sobre estilo de vida saudável.
Instagram: @isa.franca
Será que estamos vivendo ou a vida apenas está passando por nós?
Quando penso em desacelerar, a primeira imagem que surge é a da natureza em silêncio, trazendo leveza. Não se trata de parar, mas de diminuir o ritmo para sentir mais. Na vida acelerada, o tempo passa de forma automática, como se o presente escorresse pelas mãos. E é justamente o presente que sinto falta de viver de verdade. A ideia aqui é buscar um estilo de vida mais consciente e significativo, valorizando até mesmo os pequenos detalhes, alinhando-os ao que é importante para si.
O slow living é um movimento que busca uma vida mais equilibrada e saudável, em que cada pessoa se torna protagonista da sua própria velocidade. Ao adotar esse estilo de vida, os benefícios se tornam claros: menos ansiedade, melhor aproveitamento de cada momento, mais presença nas relações e clareza mental. A pressão diminui, o rendimento melhora e a qualidade de vida se transforma — tudo isso sem abandonar os objetivos, mas seguindo em um ritmo mais consciente.
Na prática, o slow living pode começar em pequenos gestos: buscar momentos de interações sociais reais, longe das telas; cultivar hobbies sem a pressa de dominar algo; ou simplesmente vivenciar refeições sem o celular por perto. Até mesmo limitar o tempo online é uma forma de criar espaço para respirar e desacelerar.
Vivendo em um mundo acelerado, precisamos ter atenção para compreender qual é o nosso ritmo. É necessário entender que existem diferentes formas de viver a vida e descobrir qual funciona para cada pessoa.
O slow living é sobre o equilíbrio… fica o meu convite para que você encontre o seu!
A pressa me derrotou novamente
José Santhiago
Advogado, Historiador e Pós em Jornalismo Digital. Autor do livro "Caminhada contra o câncer". Assistente em Comunicação Integrada. Instagram: @santhiago
As mãos do jovem que me atendeu no restaurante tremiam, indicando uma forte preocupação em dar conta dos inúmeros pedidos e chamados dos que lotavam aquele lugar. Era um restaurante do tipo self-service, com bancada de comidas em linha, salada, legumes, proteínas, sobremesas e ponto de pesagem, tudo seguindo a escrita da chamada eficiência de fluxo.
A diagramação do local não deixava dúvidas. Todo o ambiente fora pensado para que o cliente passasse menos tempo na fila do balcão de comidas, conversasse menos enquanto se servia, demorasse pouquíssimo enquanto pagava. Tudo otimizado para um fluxo perfeito. Quanto mais rápida fosse a passagem do cliente pelo estabelecimento, melhor.
Adorei a rapidez com que fui atendido. Guardanapo na mesa em saquinho de papel. Copos a uma distância de braço para servir a bebida. Linguagem impecável, sem mácula de subúrbio na voz da atendente: "Pesado, conferido, 405 gramas, R$ 35,00. Algo mais?"
Comi, ajeitei os talheres babados na mesa ao lado do prato usado, copo esvaziado, cartão de crédito em uma mão. Na outra, a chave do carro engatilhada em um dos dedos. Imediatamente, levantei-me e, quase correndo, cheguei à fila do caixa. Tudo eficientemente rápido. Fluxo contínuo. Trajeto orientado por faixas e sinalização horizontal. Lá perto, a porta de saída com um luminoso amarelado que dizia: Saída - Obrigado.
Quando dei por mim, estava sentado dentro do carro, ainda no estacionamento do restaurante. Feliz pelo pronto atendimento. Mas...
Tudo tão rápido e ligeiro que esqueci de aproveitar os gostos e aromas da comida. Tentei lembrar das cores da sálvia, mas elas não me apareceram na mente. Tentei lembrar do gosto da manga que acompanhava o peixe, mas desisti. O peixe? Não lembro mais do nome. A sobremesa ainda tinha um gostinho doce na minha bochecha, mas não impressionava sua lembrança.
Foi assim que me dei conta de que havia perdido uma grande oportunidade de estar bem, de comer com calma e pôr à prova a competência do chef, de conversar com pessoas sobre como o dia estava bonito esperando a primavera chegar, de ser feliz.
A pressa, nesse dia comum, mostrou-se uma ladra de vida e de felicidade. A consciência da chance perdida me fez triste por todo o resto daquela jornada.
Logo endireitei-me frente ao volante, arregalei os óculos, liguei os faróis, mexi na marcha, acelerei e pus-me a dirigir com pressa e sem fôlego. Afinal, não tinha tempo a perder, pois haveria ainda mais duas reuniões para enfrentar naquela tarde.
A pressa havia me derrotado mais uma vez.