Adultização de crianças:
uma questão que devemos enfrentar
IMPACTOS DA ADULTIZAÇÃO DE MENORES
E A AÇÃO DOS INFLUENCER’S NO BRASIL
(15 de setembro de 2025 - de Sílvio Augusto*)
A participação de influenciadores sociais tornou-se mais comum com o advento da Era Digital. Com essa realidade de visibilidade crescente, há alguns que agem desvirtuando sua influência para obter aceitabilidade e, consequentemente, maior número de seguidores em suas redes. Esse contexto ganhou maior projeção recentemente, nas mídias e nas plataformas de streaming, com a denúncia feita pelo influenciador Felca na intenção de ampliar o combate à adultização de menores, sabendo que despertaria a atenção de autoridades e de toda a sociedade brasileira. Diante dessa repercussão, surge a reflexão sobre a necessidade de reestruturação da família e acerca da ineficácia dos instrumentos de poder ligado à Segurança Pública no Brasil.
Com base em dados extraídos da OMS – Organização Mundial de Saúde, a taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta, com 400 mil casos/ano. Ainda sob o respaldo do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, é apregoada a garantia dos direitos desses menores de idade, enfatizando a necessidade de acesso à Educação, à Saúde e à Segurança. Essa conjunção de políticas públicas direcionadas ao público infantojuvenil parece não estar alcançando seus objetivos, haja vista os números alarmantes expostos em diferentes pesquisas pelo país inteiro. Ao repercutir, então, notícias relacionadas à adultização de crianças, desperta-se mais a urgência de maior atenção ao cuidado com a manutenção dos valores morais da família, infelizmente desgastados há décadas.
Nesse viés, se o atendimento ao que reza o ECA e os vários artigos constitucionais da Carta Magna brasileira vigente ocorresse regularmente, a credibilidade das leis seria mantida e estimulada por toda a sociedade. No entanto, a vulnerabilidade frequentemente exposta nos instrumentos legais encontra espaço para impunidade dos criminosos e – infelizmente – para o aumento de casos de abusos, violações e desvios de cuidados por parte daqueles que se configuram como pessoas intrusas ou até responsáveis e bem-intencionadas diante da guarda de crianças e de adolescentes. Assim, a expectativa da sociedade pela solução desse problema remonta há muitas décadas, porquanto se os casos aumentam, pressupõe-se que está havendo inoperância entre os agentes do poder a quem se atribuiu a responsabilidade pela segurança e pela proteção dos menores brasileiros.
Por um lado, vê-se a multiplicação noticiada de casos de gravidez na adolescência advinda de uma concepção familiar completamente desestruturada; por outro lado, assiste-se a uma quantidade absurda de instituições de Segurança desacreditadas por escândalos de corrupção em seu trato com o dever público a elas atribuído. Nessa ciranda de preocupantes acontecimentos, agentes do mal encontram espaço para agir e seguirem impunes. É fundamental que influenciadores digitais, tão visibilizados, aproveitem seu poder paralelo sobre tantos seguidores para dar uma contribuição contra a adultização de menores, engrossando as fileiras dos que querem formar uma geração mais consciente de seus direitos e saibam exercê-los no cumprimento de seus deveres com responsabilidade.
Quando se fala em Segurança Pública, quase sempre vem à mente de muita gente a imagem de policiamento ostensivo, de contingente de agentes militares por toda a parte do país. É claro, essa concepção também faz sentido. Entretanto, para além desse prisma imagético, vale considerar que o inimigo, tal qual um “cavalo de Troia”, está dentro de casa, sob a forma sutil de seres cibernéticos nas caladas da noite (ou do dia) atacando crianças e adolescentes descuidados por suas famílias e desprotegidos pelas instituições de proteção aos menores. Seguindo esse roteiro de atenções, pode-se afirmar que o Brasil ainda amarga resultados tristes ligados à adultização de crianças e de adolescentes porque há frouxidão nas leis, famílias perdidas em seu papel de proteger seus filhos e, categoricamente, tem havido uma transferência de responsabilidades quando, nessa engrenagem institucional, algumas peças estão quebradas e inutilizando toda a Máquina Estatal que assiste “de camarote” aos impactos sistêmicos de fragilização da sociedade brasileira.
Imagens: Google.com (Creative Commons )
(*) Sílvio Augusto do Nascimento é um filólogo, Mestre e Doutor em Educação, professor-titular e Reitor da WUE–World University Ecumenical (EUA); Diretor do CSA-Curso Sílvio Augusto, Preparatório para Concursos, e também Professor de Língua Portuguesa e redação; Instrutor de Oratória na Verbum; Cronista na mídia e palestrante, é autor de vários livros, entre eles: A Gramática da Língua Portuguesa Extremamente Fácil; Ficou Claríssimo!; Ficou Ainda Mais CLARÍSSIMO!; Negritude: Protagonismo e Visibilidade; Analfabetismo Funcional: Até quando?, nos quais expõe com clareza e aprofundamento os saberes da Língua Portuguesa e os temas instigantes da sociedade contemporânea.
Elikah França(**) entrevista o Professor Silvio Augusto.
Setembro de 2025
Entre alunos e carteiras, encontrei o professor Silvio cativando todos os que estavam na sala preparatória do seu curso (CSA – Curso Sílvio Augusto) com seu conhecimento e postura de educador. De pronto, percebi que eram jovens, em sua maioria, à procura de preparação para o enfrentamento de concursos. Afinal, os concursos públicos vêm estimulando muitos a retornarem aos bancos escolares, já que a concorrência por cargos estatais se acirra a cada ano. Também há os que buscam melhorar sua redação visando a serem selecionados para vagas de emprego nas empresas.
O Professor Silvio, mesmo com seus muitos afazeres, encontrou um tempo cordial para nos atender e responder algumas perguntas, tendo como referência seu texto sobre os “Impactos da adultização de menores e a ação dos influenciadores no Brasil”, publicado em 15 de setembro de 2025, no site Experimentalismo.
Pergunta – Elikah França: Seu artigo evidencia que os influenciadores que atuam na internet, em especial nas redes sociais, têm um papel social importante a desempenhar no sentido de preservar os direitos, sobretudo o direito à imagem e à privacidade das crianças. Você poderia refletir para nossa audiência sobre os limites da busca por likes e por visibilidade, a fim de preservar a infância?
Resposta – Professor Sílvio: Sim. De fato, o que queremos evidenciar em nosso artigo é acerca de um paradoxo entre os grandes benefícios de intercâmbios culturais que podem ser usufruídos por meio da Internet e os terríveis riscos que são oferecidos por ela quando recaem em mãos criminosas e mal intencionadas. Assim, considero fundamental que os pais e pessoas responsáveis por seus não abram mão do cuidado a ser dedicado às crianças sob sua tutela. Para isso, é essencial não se permitir qualquer incentivo à adultização dos menores, evitando torná-los vulneráveis às ameaças que rondam os lares marcados pela insegurança, pelo descuido ou pelo afastamento dentro das famílias.
Pergunta – Elikah França: Com efeito, a OMS – Organização Mundial da Saúde – vem alertando para a alta taxa de gestação na adolescência no Brasil. Seu artigo também destaca que o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – é um poderoso instrumento para garantir os direitos dos menores de idade. Como você entende o papel das instituições públicas e privadas no Brasil nas ações efetivas de proteção às crianças?
Resposta – Professor Silvio: Existe ainda boa credibilidade em várias instituições ligadas à segurança de alguns valores morais e éticos estabelecidos em nossa sociedade hodierna. Sob esse aspecto, ao citar não só a OMS quanto o ECA, como referências em nosso artigo, viso destacar por um lado os números assustadores relacionados à gestação na adolescência e, por outro lado, dar ênfase à necessidade de respeitar ao que reza o Estatuto criado para amparar os direitos da criança e do adolescente. Esse papel social e regulador dessas [e de outras] instituições precisa ser conhecido, respeitado e mantido entre todos nós que vivemos tempos de insegurança cibernética.
Pergunta – Elikah França: Um dos temas que mais preocupam os pais e responsáveis por menores é o fato de que há uma percepção de impunidade quanto à atuação de criminosos que utilizam as redes sociais para praticar delitos contra crianças, o que levou a matéria elaborada pelo influenciador Felca, em episódio midiático recente, a uma estrondosa repercussão. Como você percebe esse aspecto de impunidade nas redes sociais?
Resposta – Professor Silvio: A ausência de uma séria regulamentação da Justiça diante da impunidade potencializa e beneficia os criminosos que, em geral, também são covardes quando agem de modo obscuro sob as sombras de seu próprio mal. As redes sociais, mantendo-se como ambiente do crime, precisam de ações que se contraponham à prática dos crimes cibernéticos ligados à pedofilia e ao oferecimento de programas e sites promotores da adultização de menores. A ação do influenciador Felca exemplifica o que pode ser feito para evitar a propagação dessas ofertas de ampliação dos riscos às crianças e aos adolescentes brasileiros
Pergunta – Elikah França: Como os influenciadores poderão, de fato, agir contra a adultização de menores?
Resposta – Professor Silvio: Se os influenciadores forem do bem, devem ampliar esse comportamento entre outros de mesma índole, criando uma “corrente do bem” para que existam mais ações de proteção aos menores no mundo digital. São necessários programas culturais, estímulo à Educação, ao crescimento intelectual e - especialmente - tratar cada um “navegante” compativelmente com suas idades e seus perfis familiares, respeitando os direitos constitucionais e institucionais ligados à criança e ao adolescente. Cada influenciador deve agir em sintonia com o Direito e em harmonia com os valores éticos e morais.
Pergunta – Elikah França: Para encerrar essa breve entrevista, formulamos agora uma questão que foi trazida por um de nossos leitores a partir do seu artigo. Tem-se muito abordado o aspecto da responsabilidade dos pais e responsáveis por menores quanto à defesa dos seus direitos de infância. No seu entender, quais providências práticas poderiam ser adotadas para que essa responsabilidade parental se tornasse efetiva?
Resposta – Professor Silvio: Não se deve confundir o direito à liberdade dada aos filhos com o abandono deles, sem a responsável vigilância de suas ações. A família deve assumir seu papel acolhedor e direcionador das ações dos filhos, sem receio do julgamento alheio. Afinal, é bom saber que, por mais que muitos filhos reclamem desse acompanhamento, um número expressivo deles gostaria de ter os pais mais perto para que suas decisões e seus erros não lhe fossem tão desastrosos. Faço minhas, então, as palavras do filósofo alemão Immanuel Kant: “O homem não é nada além do que a Educação faz dele”. Os pais têm, efetivamente, a mais nobre responsabilidade que é a de criar seus filhos no caminho do bem, oferecendo-lhes o seu melhor em todos os aspectos.
Obrigada, Professor Silvio. Nossa entrevista chega ao fim com a certeza de que o tema da adultização das crianças merece, sobretudo em época de expansão das comunicações virtuais e do incremento das tecnologias de Inteligência Artificial (IAs), toda a atenção dos pais, dos responsáveis, dos educadores, dos influenciadores e dos representantes dos poderes públicos, irmanados na defesa dos direitos da infância.