Tema desta edição - OUTUBRO DE 2025:
Em busca do bem-estar
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Ah, o bem-estar. Essa criatura mítica, sussurrada em palestras motivacionais e estampada em canecas com frases inspiradoras, que supostamente habita lugares silenciosos com cheiro de lavanda. Mas como capturar esse espécime raro no zoológico humano que chamamos de metrópole? A resposta, meu caro amigo cidadão, já exausto de tanto cotidiano, não está em um retiro no Tibete ou em Caiçara do Rio do Vento, mas em abraçar a gloriosa insanidade ao seu redor com uma boa dose de sarcasmo, uma pitada de humor e muita resiliência.
Primeiro, vamos falar do trânsito, essa meditação forçada que a cidade gentilmente nos oferece todos os dias. Ficar parado um tempão no mesmo quarteirão não é perda de tempo, é uma oportunidade de autoconhecimento. Você pode finalmente ouvir todos os podcasts do mundo, decorar aquelas músicas da dupla sertaneja tocadas no carro ao lado e, o mais importante, praticar o mantra universal do motorista: uma sequência criativa de palavras impublicáveis, chulas, sujas e jargões. Haja liberação de cortisol. O bem-estar aqui é a catarse. Grite. Ninguém vai te ouvir acima das buzinas.
E o que dizer da sinfonia urbana que começa às 6 da manhã? Aquele concerto vanguardista que mistura a furadeira do vizinho, o alarme de carro com defeito na rua ao lado e o funk proibido vazando de uma caixa de som a três quarteirões de distância, com muita batida e pouca literatura. Não lute contra isso. Entenda que você vive numa eterna balada experimental. Seu bem-estar auditivo é alcançado com um par de fones de ouvido de altíssima qualidade, não para ouvir música, mas para ativar o cancelamento de ruído e fingir que você vive numa pacata vila em Tibal, bem na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará, terra de peixe bom, barulho do mar e grandes amizades.
Veja de outro ângulo: o caos nas ruas é, na verdade, um curso intensivo de agilidade e percepção. Desviar de buracos públicos e privados, vendedores ambulantes de tecnologia e pessoas hipnotizadas pelo celular é o seu treinamento ninja diário. Cada calçada percorrida sem um esbarrão ou um pisão no pé é uma vitória, um diploma em sobrevivência urbana. O bem-estar, neste caso, é simplesmente chegar ao seu destino com o corpo e a dignidade (quase) intactos. Você não está estressado, está alerta. É praticamente um super-herói. Comprou a capa no caminho?
Falemos de finanças. Os preços altos não são um assalto, são uma lição de desapego. Aquele café de R$ 25 não é caro, é uma experiência sensorial exclusiva. Afinal, economizar de verdade é não comprar, como disse Julius. O aluguel que consome metade do seu salário não é exploração, é um incentivo para você se tornar um mestre do minimalismo. Você aprende a encontrar alegria nas pequenas coisas, como descobrir que o quilo do tomate baixou cinco centavos. O bem-estar financeiro é a capacidade de rir para não chorar ao olhar a fatura do cartão. Esqueça por alguns segundos os boletos de segunda-feira. Ah! Que alívio momentâneo e gostoso!
E o que seria da sua cidade sem o coro de milhares de pessoas falando ao mesmo tempo? No transporte público, na fila de idosos lá na agência do INSS, no caixa-rápido do supermercado. Não se irrite. Isso é um treinamento avançado de foco seletivo. A habilidade de ouvir apenas a pessoa com quem você está conversando enquanto ignora outras dezessete conversas paralelas é um superpoder. O bem-estar é atingir um estado de nirvana onde o barulho externo se torna um zumbido branco e irrelevante. Foca! Foca! Fofoca!
A verdade é que buscar o bem-estar no dia a dia em uma cidade grande é como tentar montar um quebra-cabeça de 5 mil peças no meio de um deslizamento de terra em uma comunidade pobre carente de obras públicas. Você não vai encontrar paz bucólica, mas pode encontrar um tipo diferente de satisfação: a de ser um sobrevivente resiliente. Você aprende a valorizar o silêncio de um feriado, o milagre de encontrar uma vaga para estacionar, a alegria de um ônibus vazio na hora do rush e um amigo para tomar um cafezinho no finalzinho da tarde de quarta-feira (meio da semana).
Portanto, o segredo do bem-estar metropolitano não é fugir do caos, mas dançar com ele. É desenvolver um humor ácido como blindagem e entender que a paz interior, aqui, é a breve pausa entre uma buzina e a próxima. E, se tudo mais falhar, lembre-se que em algum lugar da cidade existe um pastel de feira por um preço justo. E isso, meu amigo, é o mais perto que chegaremos do Iluminismo.
Bem estando
Bárbara Seabra
Cirurgiã-dentista.
Autora do livro “O diário de uma gordinha”. Escritora.
Instagram: @livroacontagota
Bem estando…
Passei três semanas caóticas! Um vírus desfilou por nossa família como as escolas de samba na Sapucaí, ala por ala, quarto por quarto, um a um. Quando pensávamos que estávamos bem, outro caía.
Assim, alimentação foi pro brejo, sono foi pro brejo, exercício físico foi pro brejo. Trocávamos o dia pela noite, dormindo incessantemente ao longo da manhã e permanecendo de olhos abertos à noite. As tosses formaram uma sinfonia mal elaborada e repetitiva, como aquelas músicas chicletes que não conseguimos deixar ir embora.
Aí, serenamente e no tempo deles, os organismos foram respondendo (abençoado sistema imunológico!), os termômetros foram guardados, as idas à farmácia diminuíram, as cabeças pararam de badalar como sinos. Mas, onde ficou a coragem de voltar?
Sim, coragem de voltar à academia, voltar à alimentação regrada, conseguir organizar a rotina de trabalho - sono - estudo…
Onde ficou nosso bem estar? Onde está a plenitude pregada mundo afora sobre mente sã, corpo são, equilíbrio em tudo? Ainda estamos nesta busca, uma verdadeira batalha. Todos nós! Dias perdemos. Dias ganhamos.
A gente só valoriza o bem estar quando ele é sucateado. Falo não só do corpo, mas também da cabecinha. Nos dizem que bem estar é resultado da tríade alimentação-sono-exercício! Que bem estar é esse que estamos nos proporcionando? Refleti sobre as horas do dia, do meu dia.
Horas no celular.
Horas no computador.
Horas no trânsito.
Horas fora de casa.
Horas longe da família.
Dias de agendas lotadas.
Colocamos metas em tudo: dormir oito horas e fazer seis refeições balanceadas por dia, além de exercício físico três vezes na semana. Meta de bem-estar!
Será que estamos procurando realmente o bem-estar ou só estamos nos enganando, somando mais cobranças a dias exaustivos?
Bem estar não pode ser um objetivo, mas um caminho. Não quero um bem estar, mas quero um bem estando.
E desejo o mesmo a você!